domingo, 31 de outubro de 2010

G.U.Ria.

E isso lá é coisa que se diga, guria?!
Onde já se viu, menina estufar barriga, olhar no olho do outro, girar saia no salão, futucar nariz em meio à multidão?
Preste atenção, meu anjo, o mundo dá valor ao consentimento, ao sorriso pequeno, ao olhar sereno...
O que o mundo quer? Se fagocitar! Eu quero correr, nem que seja pra me estabacar, levantar, correr, estabacar. Pago pela brisa do caminho, pela dor e a coceira da cicatriz, pelo encontro com a Terra, olhar pro alto e merecer o fardo de ser mero aprendiz. Então me diz, o que você quer? Enganar o mundo ou sustentar o peso de sua sublime leveza, onde entre o sim e o não o que menos importa é a certeza? Garçom, 2 copos e uma cerveja! Hoje eu vou brindar com o mundo, um brinde ao susto de fazer parte desse grande absurdo, um brinde à despedida, estou partindo pra voltar ao mesmo lugar, mas acredito que quando eu retornar isso tudo vai melhorar, e se eu não me apressar, corro o risco de enraizar, empedrecer, encaretar, bye bye, não me espere pro jantar.
Ass: G. U. Ria.

domingo, 26 de setembro de 2010

Sem pé com cabeça

Revirado pelas tentativas de olhar por outro prisma, mais de mil promessas dessas que ninguém acredita, enganando o diabo, a sorte, a morte, mas não a vida.
Aliviado pelo suborno ao padre, nem se despede do abade, ganha a rua e trama uma nova falcatrua.
Bicho de pé, deitado sobre o monumento de Don Juan, ladra ladra sem ter porque, gasta mais do que pode ter, pede mais do que tem para oferecer, rouba pela medíocre razão de enriquecer.
Inventaram-te em qualquer esquina, usurparam tua nobre menção em reverenciar a quem te deu o pão.
Grite bem alto suas inverdades com sinceridade, tua cicatriz é mais digna que teu sorriso, desenrola logo teus intentos postiços!
Nada além de ti interessa, por isso tenho tanta pressa, confessa teus medos mascarados em ofertas, bata na boca três vezes e me peça perdão, cantarola baixinho apenas esta canção:
“Canto do canto do olho, lágrima se desfaz num movimento sereno
amargura que sente por dentro
se desfaz num movimento sereno
batuca sem medo o tambor do desejo
que se faz num formigamento sereno
sente teu peito teus membros
vibrando num só movimento...”

Cadim de coisa nenhuma

Tamborilam os dedos inquietos através do prenúncio secreto contido nas flores flamejantes do deserto.
Hoje parou no tempo, amanhã não chegará ao exato momento, resta de um ontem tomar conhecimento em seu contento.
Ai de mim que sou assim.
Zombeteira do agreste.
Tal modéstia gira em torno do incauto, do furor, do abjurado, me entendam, por favor, a mordaça me calou, o espírito desencarnou, a pobreza me assolou.
Quanto mais explícita me torno, mais de mim correm os devotos, então me comporto bem dentro do espartilho, salto alto, na mente apenas mais um desafio.
Aquieto os pensamentos, conselheiros sábios que um dia estiveram presentes nesse solo ardente, atualmente me espiam solenemente, dedicam todo o tempo ao meu presente.
E quem pressente?

O silêncio divino te leva direto ao teu destino.
As palavras não ditas te libertam das armadilhas.
Em apenas um olhar, toda a sabedoria.
Em meio à tempestade de letras busco um significado para essa vontade danada da peste de arrancar os sapatos e correr contra o vento, escutar sussurros de bicho e de gente, pilotar uma estrela cadente, contar histórias cabeludas de seres decentes, embalar no colo esse universo inquestionável desestruturado por facínoras desequilibrados, me encantar com o dom inato de presenciar dia após dia que uma nova vida se anuncia.
Ai de mim que sou assim.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ar-Mário.


Depois de três dias recompondo os cacos, saí do armário. Estava tudo sob controle, a vida continuava viva e vi quando as borboletas também decidiram sair do casulo. É o primeiro dia da primavera, às vezes a coincidência gera o absurdo.
Pus-me a perceber  que o horizonte é logo ali, na ponta do meu nariz; o precipício é passado, pulei dele quando nasci * e já que estou aqui, faço do centro do universo o meu umbigo, não que signifique egoísmo, só quis dizer que se por acaso ninguém aparecer, estarei de braços abertos para me receber.
Três fusíveis do meu cérebro queimaram no armário, não que signifique um semi-retardo, só quis dizer que pensar demais sobre o futuro ou o passado me distrai a tal "pranto" onde deslembro que permaneço respirando. O ar têm-me tocado mais do que os fatos, e através desse contato, deixo vaguear e sublimar, evaporo distorcendo a fôrma, derreto meus anseios concretizados em desejos.
Como a vida segue sendo, existir requer escolha, a poeira da ampulheta se escoa * fique bem, meu bem, causo-de-quê coisa sequer me atordoa* Deparo-me com diversos manuais de pseudo-ajuda, engulo as páginas e saboreio a grande estupidez das palavras, cada verbo me limita, a letra pronunciada é a torta imitação da vida, nem o tal do fróidixplica, lácansétima, sól complica.
Considero o todo de qualquer conhecimento, o armário me deixou por dentro, por ele tenho grande apreço ao desamarrotamento, mas "voa lá", eis o momento de escancarar a luz e fulgurar de acordo com a sincronicidade do universo, a dualidade do acaso, o monismo do colapso, a certeza de que a dúvida é tão verdadeira quanto a mentira e que o feio foi bonito um dia.
Era pra ser mais leve, confesso, talvez mais alegre, de certo... Entre gavetas e cabides, me encolhi, dobrei o limite, me perdi, acordei mãe de mim, o filho que está por vir.  Ah,notei incrivelmente que o ciclo é bestial, ninguém se dá conta por ser apenas um mero mortal.

Meu primeiro dia depois do parto anormal daquele velho móvel e seus cupins, e já me ponho a ir além do que esperava de mim, mas é assim, aprendi a rir do tropeço, o erro gera o acerto, só tenho a certeza de que cada dia é um novo começo... (Fim).

domingo, 15 de agosto de 2010

Dente que nem sente.


Perceba a criação significativa e espontânea.
Não inventaram o homem, as coisas criaram-se, decidiram SER (vida), e a vida, ser vivida. 
Criaram-se por si só, criaturas criativas. Ser que desejou ter, Ser que desejou crer, Ser que já sendo, resolveu conhecer, esquecendo-se que não há por que.
Nessa busca de explicações, onde palavras se perdem no tempo, tão efêmero, que existe sem ser, subvertem o que sentem, que sabem inclusive o que nem sabe que existe, acreditam simplesmente... pois seria como negar a dor de dente.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O mundo é fabuloso, o ser humano é que ...

Passo torto de malandro que perdeu a alma no jogo, surrupiando a fala, distorcendo a calma, coitado do moço, nem chapéu tem para arrumar o troco.


Garoto disperso, invadido pelo mundo cruel, nunca quis alcançar o céu, mas voou tão alto que encontrou um tal de Manoel, well, well, well, garoto desperto depois do tombo de cara no asfalto, bazuca apontada por um asno fardado, mãos ao alto, viva o seqüestro diário de atos, então pega o atalho, corre sorrindo, em desalinho, garoto esperto, metido em perigo, encara o som do universo, bandolim debaixo do braço, esse garoto não cansa do fardo, da benção, não pede licença, respeita o invisível, não sabe ser romântico, mas é um amante emotivo, seduz o mundo com seu sorriso, garoto maroto, respeita o desafio, se mantém na estrada, as vezes dá mancada, sente fundo o calafrio, inventa palavras, piadas, gargalhada abafada, aprendeu a ser apenas essência, o pó de onde viemos, o que norteia a nossa existência.

Crioulo, deus de si mesmo, flutua e perambula, não há quem o destrua, lindeza, cara da mãe natureza, grita pra todos os cantos, diz que a resposta é sim, não importa o contexto, tem a sabedoria de sua missão, desconhece o inicio e o fim, garoto, que orgulho que tenho de seres assim.

Pilota seu cavalo alado, dança descalço, emana o calor da quentura do ardor, incessante, incendeia o que sobrou, e pára! O tempo é seu aliado, nem um minuto a mais que o esperado, faz dele o que quer, conquista em segundos aquela mulher, passa horas e horas no futuro, volta ao passado e ganha um presente, revelando o desejo de ser apenas um garoto eternamente.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Foice

O contexto existencial é a comédia de marionetes atuando em um paraíso artificial, onde a primeira cena foi omitida e o suspense diluído em um drama de sentimentos improvisados, lado a lado do épico futurista, com uma pitada de pornô-chanchada fascista.
Permanecemos renegando o reencontro com a vida, rindo de sábios, sepultando o espírito das palavras numa árida cegueira, num contágio da ignorância que nos permeia.
O prazer contido na carne se instala como o desejo da formiga pelo doce, de qualquer maneira, sem a concepção da causa, sem nada, quando se vê, já ”foi-Ce”.
E nesse barco estou a hesitar pelo naufrágio, na dúvida de quem irá me resgatar, não há culpa nem desculpa, habito meu corpo encarcerado, mas minha alma quer se salvar.
Salve-se quem puder? Não, salve-se quem souber sobre a grande ironia a que estamos impostos, ao coletivo só posso oferecer amor, não posso gritar aos surdos nem apontar aos cegos, estamos todos certos, de mãos atadas, só nos sobra o verbo. Escrevo para mim, não pretendo que me entendam, cheguei à conclusão de que primeiro somos cerceados de escolhas pra depois usufruir de um “resto- arbítrio” tão democrático quanto a sorte de um par ou ímpar.

sábado, 26 de junho de 2010

Prô.ôlho da rua...

Senhor, por favor, mantenha-se com a mesma postura que enaltece a curiosidade do menino escondido por detrás do muro. Recuse o grafite, o piche, um rabisco qualquer ou qualquer figura que possa deturpar seu mundo.
Conserve seus olhos fixados pelo buraco da fechadura, observando, de cara na porta, o que realmente importa, o que raramente muda.
E caso batam bem forte, diga que tem gente, mas seja inteligente, só confesse que perdeu a chave quando ninguém mais estiver presente.
E sozinho, finalmente, ponha-se em busca, comece a procurar... reserve bastante água, inspire profundamente, acenda um fósforo, caia de joelhos na terra e se oriente, ninguém disse que ia ser fácil, pois o impossível é atraente.
Senhora, sem pavor, mecha-se do lugar, descruze as pernas, borre a maquiagem, pois não há mais maldade nesse seu olhar.
O que foi perdido? Em meio ao labirinto, acenda as luzes, dê a pista da charada, ria da piada, ache graça de tudo ou chore por nada, meu dialeto é visceral, meu amor é bandido e meu espírito carnal.
Tenho medo da verdade, do perigo da revelação, ao barulho do silencio, prefiro raio e trovão.
Senhoras e senhores, o baile de máscaras chegou ao fim, não tem mais sentido continuar a fingir, o brega está na moda, o louco tem a chave do hospício, conto contigo, mas não conte comigo, dou adeus a esse asilo de novas idéias, a insensatez do velho burguês, a incoerência contida no seu português.
Confesso que meu relógio está confuso, anti-horário, sem a corda e o parafuso. Me livrei desse fardo, sou atemporal, versátil e banal, me chame de tudo, me confundo em seus rótulos, suas marcas, seus modos, mas nunca pequei por ser superficial, já te disso e repito, posso ter medo da verdade, mas que seja profunda, derrube os muros, levante as saias das meninas, seja turbulenta, abale estruturas de forma amena.
Se dependesse do momento, não haveria final, admiro o infinito, fecho os olhos e vejo além do normal, meu coração aperta, escorre amor, que corroe, amor fatal, a chave que abre porteiras de gados marcados, o código sem fronteiras, a solução de qualquer charada, a verdade incrustada na alma espancada, o contraponto que fortalece a nossa caminhada para o destino de utopias que se revela nos sonhos, mas que quando acordamos a música aumenta, o embalo esquenta, a mentira envenena e o figurino que representa o melodrama, que pena, cai tão bem que sempre nos desorienta.

domingo, 23 de maio de 2010

.¡.Ow Lucy.¡.

Decido-me sobre os teus retratos mal revelados se hei de pisar em terras em que talvez um dia não queira mais retornar.
Sobre casas mal projetadas, insinuo meus pés através de um cenário imaginário que eu mesma criei.
Foram todas, pouco a pouco, tomando cores, tantas cores, confesso que me orgulho do plano, mas quando vejo que te tornou a pensar tão plano, que virei ao contrário, do cubo ao quadrado, e ainda assim não te achei...
Vou dançar uma bossa então, em homenagem ao carinho da recordação, desculpa, roubei teu bordão, mas é assim como estou, embriagada desse inominável prazer que me deixo...
Ah me deixo, de braços dados aos sorrisos, quando ouço essa gaita ao fundo, hum... como descrever um sabor?
E de uma bola de chiclete a estourar deixo–me ao ar...
Esse é o momento, o instante de voar, doar-se ao "Maximo", reconhecer teus fracassos, lançar-se ao aço, ao concreto, e que seja ao plástico, não importa isso sempre acaba em protesto.
É como registrar um devaneio, essa sua foto de lente embaçada, eu começo a enxergar meio às claras, com uma pitada de lucidez, que vivi a chamada efêmera sensação do gosto, debaixo da língua, foi se tornando pouco a pouco e disse finalmente para o que veio.
E eu sempre encontro o freio, só pela aventura de pegar o atalho, ou talvez o caminho encantado, onde alguém queira se apresentar e contar a sua própria história, onde a placa indica: Seja personagem do que sempre sonhara, nunca perca o fio da meada...comece sempre outra vez.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Relaxa na prosa

E que tal uma rapidinha?
Não adianta correr, ou se arrastar devagar, parece incrível, mas demora o mesmo tempo pra chegar lá.
Ninguém percebe? É tão difícil assim? Será que não é obvio que a busca não é pelo fim?
Assim eu sou forçada a ser piegas, redundante, prolixa, infame.
Quero cuspir, escancarar, ser intransigente, quero ver alguém me calar.
Prefiro cair e me ralar, expor a pele, os vasos, os nervos, os ascos.
Prefiro que me exponham como moldura de concreto a ser discreto, olho no olho, mordendo a língua, dedo do meio, vou roubar teu auto-falante e promover um manifesto lancinante.
O fim é teu objetivo? Já cogitou a hipótese de não alcançar? Então seja criativo e arrume um jeito de viver o meio, o caminho, o constante, o desafio, sentir o que está sendo vivido, entre ilusões e delírios, tenha o real para não se perder no ideal.

Na moral, e tenho dito!

Visitar-me-á?

Onde mora toda essa dor?

Talvez um dia possa me fazer um convite

Numa visita, me receber com um chá... é só um palpite.

Abro as portas, então, encontro-a num sótão, ou será um porão?

Resiste em me mostrar seu rosto, face crua esculpida em desgosto

Não fede nem cheira, sem sabor, é cega como uma mula, tapada e um tanto surda, só sente a picada do próprio veneno, passa horas a se consumir por dentro.

E quando cansa da solidão, se põe a invadir meu coração, cantarolando baixinho uma fúnebre canção, chega de mansinho, se aloja e decora meu peito à sua moda.

É dor cheia de vida, procria a morte e a alforria, faz do meu coração uma coação, apertado, bate todo acelerado. Uma disritmia que inveja o maestro, numa sinfonia de choro da denúncia do seqüestro, a dor é manifesto.

Ela acusa o roubo, a perda, o louco, a deixa. A dor é um processo vital, a morte é necessária para compor um final. O ciclo é eterno, meu espírito é infinito, a dor pode ser feia, mas deixa o poema bonito.

Uma alma partida, destroçada, não é de longe o significado do vazio, pelo contrário, demonstra a vontade de se preencher, catar os cacos e se reerguer, sentir o sentido do que é viver, como num ciclo, matar a dor para renascer.

Não gosto de me contradizer, mas essa dor só existe porque não há amor, é a falta de luz do vazio em que me deixou. É a esperança, a casa sem mobília, prestes a receber visita, um café, talvez, tenho fé dessa vez.

Sorrio e mostro o rosto, é a dor saindo por baixo, fazendo cócegas, provocando o gozo...

Ouço uma canção, com rimas e clichês, é a mais bela colonização do meu eu, acelero, paro, não evito, abro as janelas e basculantes, desejo esse amor todos os instantes.

Invada meu coração, meta o pé na porta, me ressuscite, pois já estou morta, prestes a compor um final, meu ciclo é eterno, meu espírito vital.

sábado, 3 de abril de 2010

Palavreando

Percorro cada extremo do teclado, toco levemente as teclas, hesito em apertá-las. Toda letra abre um leque do que será escrito, começo com p, pois hoje meu o peito foi partido.

P
esco palavras que pairam no ar, falo do nada, falo do que nunca sonhei falar, falo do que já foi falado, e descubro que falo até de objetos fálicos, mas isso deixo pra lá.

P
ara manter o ritmo não paro de palavrear, palavras são fios que entrelaçam pensamentos, pontuam sentimentos, partilham alguns momentos ... seja dando uma palavrinha ou cuspindo palavrão, não importa o que seja dito, mas que o dito se emoldure de emoção.

P
ermaneço parado na esquina dos desavisados, aguardando uma nova razão que freie a compulsão de falar em vão. E daí surge a nova letra, teimosa, enigmática, prestes a ser re- significada, implorando seu cultivo, doidinha pra ser atriz de um outro livro.

P
e-pe-perae, seu caractere aproveitador, me usando a seu pleno favor, não sou cobaia da sua pobre dor, cansei de escrever o “nonsense” todo que você ditou.

Pronto, não perdi o ritmo, o desfecho é todo seu. Eu escolhi um verbo ou

um pronome, ou que tal um versinho bem infame... mas não, o dígito também é símbolo de puro encanto, começou com p e quis terminar com .


quinta-feira, 1 de abril de 2010

Sobre saltos

Enfim descobri um novo jeito para criar, sem formatações, sem rejeições.
Quero apenas a falta de estilo num sobressalto efusivo.
Olhos que vibram assim que anunciam o dia em que me tomarão pelos braços e me farão mulher digna de abrir-me à alma e sonhar, entre tantos errantes com princípios perdidos, eis a única saída pela qual nunca irão me resgatar.
Desprezo a cobertura, só desejo o recheio, o que se perde no meio, se esconde faceiro, dando o gosto que no gosto jaz.
Prazer que derrete na saliva, mesclada na língua que prova cada descoberta como única, infinda, face a face das papilas gustativas que escancaram a gengiva quando modelam o jeito da palavra errar.
E me alegro inteira, rio do curso do rio e lhe admiro imensamente quando desemboca no mar...sem medo de se libertar perante a imensidão, o que também é perda, mas é só pra se encontrar.
É esvaziar para tornar completo. Que o processo envolva amor ou ódio, prezo que se reconheça através das próprias percepções que somos feitos de carne, não de concreto, e que por isso temos peito aberto pra imensidão que nos oferece o pão, mas que vira e mexe tornam a pisá-lo sem oferecer a mão.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Um divã aflito

E de repente meu mundo pára de rodar, minha rotina se esfarrapa toda num mesmo lugar, meu pedestal desmancha diante de um olhar e saio do sério na tentativa de me acalmar.
Tudo acontece quando há paz, silêncio demais, pensamentos que tocam num seio que não alimentará jamais.
Desejos na falta de ensejos para tais receios, um tropeço diante de um argumento para tal momento, uma senha decifrada para tal charada, um tormento insistente sem qualquer precedente.
Bati a porta do cubículo mal iluminado, minhas pupilas dilatadas confessavam o que ninguém mais suportava, não quero entender porque nesse sonho insistente alguém sempre quer saber o que não se permite prever. Quer ler minha mente, tenha sangue quente, estômago forte, senão nem tente.
Construirei um novo sentido para a tolerância, talvez em lugar de um cérebro coubesse melhor um triturador para toda essa ganância. O que se esconde e ninguém quer ver, o que te abraça à noite e você tenta esquecer, a inocente vontade de se coçar quando na verdade o intuito é se auto flagelar, se submeter a um simples não quando a verdade roga palavras de baixo calão com uma pitada de maldição.
Silêncio demais, o ventilador e as teclas do computador me tiram a paz, existe alguém roubando meus pensamentos, eu já li tudo o que ando escrevendo. Será que eu me traí? Vendi-me barato por aí? Ouço-me rindo atrás de mim!
Ando preocupado, há roupas de outras pessoas dentro do armário, o pior...me conhecem com tamanha sensatez, camisa p, calça 40, tênis 36.
O que me trouxe até aqui, quem fez as escolhas por mim?
Meu psicanalista diz que me colocará no eixo, apenas fecho os olhos, conto até três e tento um novo desfecho.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Dedicado a quem nunca lerá

Chega de fazer barulho, meu ouvidos estão roucos, meu orgulho perdeu o juízo, minhas pernas querem correr pra ir te ver, doce orgasmo num amargo amanhecer.
E quando eu penso que meus dedos te encontraram, você me distrai com um sopro na nuca, desejando o desespero de vencer a luta , tão nua, tão pura, reluzindo nos olhos pecados mofados de uma criatura, sem pé nem cabeça, alma transparente, volátil, demente, que mente e nem sente meus pés quentes... a te tocar por debaixo do edredom, na tentativa de expressar que nenhum mal nos abaterá, e que amar é apenas mais um dom.
O toque certeiro é suficiente para te desmanchar por inteiro, sintonia fina, descrever o que se sente é desafio da mais alta categoria da espécie dos ilusionistas, sumo dentro de ti, apareço quando sorri, me detenho em te dar prazer, seguro o tempo para nunca mais esquecer.
Tento fazer uma música, eternizar um momento que eriça pêlos, fazendo nascer a energia que não tem mais onde caber, dissipada num grito, prazer e carícias, te encontro na esquina da vida, levando os pensamentos pra passear num leve flutuar e a escarnecer do poema que fiz pra você saber que amar não é apenas sofrer.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Nem queira...

Nem queira saber como tudo começou!

- Gosto da objetividade e da simplicidade... e ponto final.
- Não tenho muita escolha se você não alcança minha loucura.
- Chego lá, dou voltas, encontro o que necessito e retorno. Trago apenas o que muda, não me afeto com as estruturas.
- Minha estrutura não muda, devaneios são pilastras, não entro em consenso, existe um fim, mas o meio é turbulento.
- Planos concretos devem ser traçados, você escolhe apenas a direção da massa, o caminho protegido, o gosto do desgosto e do castigo deve ser banido.
- Respeito os pessimistas, a ordem natural é manipulada por quem guia, a dor continua devendo ser sentida, existo nela e ela me aprecia.
- Ladainhas em meu ouvido, não tenho tempo, só consumo o tempero da vida, ela é curta, durmo pouco, sou in, olho pro céu apenas pra ver se já posso sair.
- Tentarei não entrar em detalhes, faço esforço pra resumir o que se passa na estrada dos acontecimentos que ficam no acostamento, lá existe o que de fato se vive, o verdadeiro momento.
- Você é como eu, num instante, num dado momento algo nos modificou, vou sendo, vivo o momento sempre atento, não gasto palavras ao relento.
- Fique por aí, reprima seus instintos, finja que sente, mas não atire seu verbo contra quem range os dentes tomado de insanidade, mente dormente, o ópio que a civilização oferece a toda essa gente e a gente acaba quebrando a corrente.
- Como eu, como você, não pregue fantasias de livros que nem mesmo crê. Influencio-me apenas ao ler seus lábios pequeninos de incerteza, sem ganância, apenas fraqueza.
- É apenas um modo de enxergar a vida, estamos todos certos, temos a mesma ferida, somos células do mesmo organismo, e pra mantê-lo vivo precisamos apenas caminharmos unidos, fugindo da névoa e encarando nosso próprio abismo.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Em sá cada.

Lá vai o saco a seguir o vento por onde nem ele mesmo sabe o que lhe espera quando a tempestade cessar e o tormento o fizer pairar no ar.

Sei que ele gosta de ser livre pra voar, mas quando o menino corria com ele pra lá e pra cá, seguro por uma linha, deixava-se rodopiar e ousava o impressionar com acrobacias que só um saco branco sabe dar.

O que esperar então, já cansado de se reciclar em vão, foge do chão e lá de cima se põe a observar estupefato estúpidos fatos que nem na memória merecem ficar.

E quando fica repleto, de saco cheio se torna completo, encolhe as alças pra não se prender, seu desejo é desapego, pois o saco só quer se perder.

Ultrapassa passarinho, muriçoca e o próprio vento, viaja só e em silêncio, driblando galhos e balões.

Imagina estar lá embaixo e logo sente o chorume, o choro calado e logo assume que a melancolia presente no sorriso dessa gente é fruto do que não se entende, restando a fruta sem semente e a boca sem dente.

Se apressa em alcançar o que pouco interessa, acaricia gentilmente braços e pernas, ri dos borburinhos falados por quem crê num futuro de utopias, inveja o cego e seu cão guia.

Persevera em busca da felicidade, se doa de amor, mas sabe que na verdade, é um saco sem maldade, de grande maleabilidade e pavor, que transporta toda falta de criatividade de seu criador.

A sacola não entende que não deve refletir por aí, idéias não lhe pertencem, ela se confunde, não sabe se medita ou se entorpece a mente.

Maldita sacola teimosa, toma teu rumo e vê se decola, já basta eu nesse mundo de idas e voltas, vasculhando as pistas espalhadas nas rimas de uma história divina, tomo cuidado com ervas daninhas, dou pirueta, ouço o trovão, páro no tempo e percebo que sobram apenas rugas nas mãos.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Pré-concepto

Só pra deixar claro: Não tenho certeza, apenas precipito meu medo ou meu desejo ... fingindo ter firmeza.
Humildemente abro meu coração, minha mente se cala, pois a razão não escancara o que se esconde entre as palavras, driblando a leitura e inibindo a emoção.
Estrago o verso ainda não construído, mas não me iludo comigo, sempre existiu segunda intenção em ser alguém que presta atenção nesse vazio preenchido de palavras de baixo calão.
E posso continuar a despejar meus delírios oníricos que não têm incumbência de fazer sentido, mesmo que seja minha vontade reprimida, ah... que pena, essa já foi tolhida.
Prefiro então continuar suando, pegajosa, esqueço o que penso e sinto o vento que me aborda, dou valor ao que nem ao menos se vê, desligo o ruído do som e da TV, ruído da mente que me desafia a pensar o que sou realmente.
Aqui jaz o aborto do pseudo-poema, ah...que pena, cale a boca, nem valia a pena.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

HagaxIVê.

Corro pra abarcar o mundo com meus feitos sem freios e paro no meio do caminho em busca de carinho que irá consertar os defeitos que limitam o meu jeito.
Junto faíscas que vão consumir o que se perdeu devido ao incêndio que se deu na mais brusca beleza do caos, foi mal, retiro o que disse, volto atrás com minha tolice.
Gosto do véu cobrindo seu rosto, detalhe do queixo sem sinais, quem sabe um dia eu enriqueça e você se esqueça que quem gira o mundo sabe bem o que faz.
Esquenta a boca pra me beijar, se torne frio assim que o trem vier me buscar, parto para o lugar que te falei, não ouse pisar nas minhas terras com suas leis.
Rogo-te toda a praga que despacharam na esquina caso adivinhar o que eu penso ao meu respeito, fico sem jeito, faço careta pro espelho, mas você nem liga, já teve sua alma vendida, então, seja bem vinda, meu universo te anuncia. Mas venha sozinha.
Chega de rima, a hipocrisia foge do padrão, o vôo da andorinha já não tem mais razão nesse clima, segura na mão... e sinta os dedos ansiando por toda dor que há sob as unhas quebradas, derrotadas por uma luta sem causa.
Termino sem nexo entre os pensamentos que sussurram em mim, tanto empenho não me garante o talento, mas acredito na matemática que não prova porque quando me somo aos apelos, me divido e quebro ao meio, quando me multiplico a ti, você parte sem ter aonde ir...sem ter mais porque sorrir...tratando de mudar o mundo a sua volta, mansamente sem revolta, sem contar comigo, nem na matemática na qual acredito.
Fica feio voltar atrás, descarto as noticias frescas da boca das bestas pois nada disso me satisfaz, então pego o guarda chuva e saio pra rua ver o que de novo há, percebo que os ratos se escondem pois quando o céu responde, as crianças dão a luz a outro mistério que paira no ar.
Trago o hálito da revelação tingida perante os portões fechados em sabedoria que dão prazer aos mais egoístas da velha geração, cansados de seus próprios sermões, agora brincam do que o mestre mandar, na melodia do tom que tocar.
Olho pro chapéu desequilibrado no cabide e vejo nitidamente um homem falido vestido sem grife, apanhando o lixo que cheira a palpite, na certeza que a escolha do destino a ser seguido apenas o agride.
E fere os seus ossos corroídos de ódio por não ter conhecido o pai que deu a luz pelos portais da grande obra que projetamos destruir sem demora sorrindo de dia e chorando ao dormir...sem memória, garantindo o pão e pedindo perdão, sem vitória, perdendo a batalha e ficando na mão...sem melhora, ajoelhando no milho ao som do refrão, sem discórdia, sem compromisso nem obrigação.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Está estático

Um mergulho serviu pra eu me recompor e no fundo daquilo que me é estranho, havia esquecimento, acalento, desinteresse peculiar... prendi o ar e tornei a afundar. É incrível ver o mundo tornar-se novo por alguns segundos quando fecho o olho... me afogaria para fazer durar a sensação de não encontrar o chão, driblando a gravidade e todas as teorias que fogem à realidade. O sal me envenena, mas sem problema, quero me esvair de forma lenta, teu ar também não vale a pena, que dilema! Nem quero citar as bolhas, mas se não as cito, as bolhinhas não deixam de escapar, tolinhas, não duram o tempo de serem pegas sob o mar, sobem velozes, saem de mim, produzo simples bolhinhas, gostaria que fosse sempre assim...mas o mar não tem fim...e eu sim. Ondas afrontam o céu noite e dia, movimento explicado por alguém que um dia ouvi com desdém... não me importo com o pré-elementar, fui feita com limites preciosos que me permitem apenas experimentar, deitar e rolar...flutuar, nadar, boiar. Respeito o tempo, a relatividade, as hipóteses e os teoremas, mas meu relógio funciona de acordo com as estações, pertenço ao instante lunar. Crio diferentes personalidades, me guio pelas árvores que vejo através do portão... meu roteiro não permite o não, dou frutos, amadureço, quando as folhas caem, aí que cresco, renovo a missão, tenho um novo ciclo e me batizo, vou à praia sem destino, me perco no rito e rezo baixinho "obrigada por não ter conhecimento de nada, só isso me basta, meus seis sentidos para serem sentidos coberto de amor a ser dado e recebido ... amem"

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

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Peno por ser sólido, vibro como tolo ao ver os destroços, fragmentos apenas fragmentos me recompõem ao infinito que é ter uma alma em busca do chamado da vida atemporal, imoral e imortal


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Espectadores