Lá vai o saco a seguir o vento por onde nem ele mesmo sabe o que lhe espera quando a tempestade cessar e o tormento o fizer pairar no ar.
Sei que ele gosta de ser livre pra voar, mas quando o menino corria com ele pra lá e pra cá, seguro por uma linha, deixava-se rodopiar e ousava o impressionar com acrobacias que só um saco branco sabe dar.
O que esperar então, já cansado de se reciclar em vão, foge do chão e lá de cima se põe a observar estupefato estúpidos fatos que nem na memória merecem ficar.
E quando fica repleto, de saco cheio se torna completo, encolhe as alças pra não se prender, seu desejo é desapego, pois o saco só quer se perder.
Ultrapassa passarinho, muriçoca e o próprio vento, viaja só e em silêncio, driblando galhos e balões.
Imagina estar lá embaixo e logo sente o chorume, o choro calado e logo assume que a melancolia presente no sorriso dessa gente é fruto do que não se entende, restando a fruta sem semente e a boca sem dente.
Se apressa em alcançar o que pouco interessa, acaricia gentilmente braços e pernas, ri dos borburinhos falados por quem crê num futuro de utopias, inveja o cego e seu cão guia.
Persevera em busca da felicidade, se doa de amor, mas sabe que na verdade, é um saco sem maldade, de grande maleabilidade e pavor, que transporta toda falta de criatividade de seu criador.
A sacola não entende que não deve refletir por aí, idéias não lhe pertencem, ela se confunde, não sabe se medita ou se entorpece a mente.
Maldita sacola teimosa, toma teu rumo e vê se decola, já basta eu nesse mundo de idas e voltas, vasculhando as pistas espalhadas nas rimas de uma história divina, tomo cuidado com ervas daninhas, dou pirueta, ouço o trovão, páro no tempo e percebo que sobram apenas rugas nas mãos.
2 comentários:
Me amarrei nesse saco.
Que saco!
Beijo
me lembrou uma cena do filme Beleza Americana...
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