sábado, 3 de abril de 2010

Palavreando

Percorro cada extremo do teclado, toco levemente as teclas, hesito em apertá-las. Toda letra abre um leque do que será escrito, começo com p, pois hoje meu o peito foi partido.

P
esco palavras que pairam no ar, falo do nada, falo do que nunca sonhei falar, falo do que já foi falado, e descubro que falo até de objetos fálicos, mas isso deixo pra lá.

P
ara manter o ritmo não paro de palavrear, palavras são fios que entrelaçam pensamentos, pontuam sentimentos, partilham alguns momentos ... seja dando uma palavrinha ou cuspindo palavrão, não importa o que seja dito, mas que o dito se emoldure de emoção.

P
ermaneço parado na esquina dos desavisados, aguardando uma nova razão que freie a compulsão de falar em vão. E daí surge a nova letra, teimosa, enigmática, prestes a ser re- significada, implorando seu cultivo, doidinha pra ser atriz de um outro livro.

P
e-pe-perae, seu caractere aproveitador, me usando a seu pleno favor, não sou cobaia da sua pobre dor, cansei de escrever o “nonsense” todo que você ditou.

Pronto, não perdi o ritmo, o desfecho é todo seu. Eu escolhi um verbo ou

um pronome, ou que tal um versinho bem infame... mas não, o dígito também é símbolo de puro encanto, começou com p e quis terminar com .


quinta-feira, 1 de abril de 2010

Sobre saltos

Enfim descobri um novo jeito para criar, sem formatações, sem rejeições.
Quero apenas a falta de estilo num sobressalto efusivo.
Olhos que vibram assim que anunciam o dia em que me tomarão pelos braços e me farão mulher digna de abrir-me à alma e sonhar, entre tantos errantes com princípios perdidos, eis a única saída pela qual nunca irão me resgatar.
Desprezo a cobertura, só desejo o recheio, o que se perde no meio, se esconde faceiro, dando o gosto que no gosto jaz.
Prazer que derrete na saliva, mesclada na língua que prova cada descoberta como única, infinda, face a face das papilas gustativas que escancaram a gengiva quando modelam o jeito da palavra errar.
E me alegro inteira, rio do curso do rio e lhe admiro imensamente quando desemboca no mar...sem medo de se libertar perante a imensidão, o que também é perda, mas é só pra se encontrar.
É esvaziar para tornar completo. Que o processo envolva amor ou ódio, prezo que se reconheça através das próprias percepções que somos feitos de carne, não de concreto, e que por isso temos peito aberto pra imensidão que nos oferece o pão, mas que vira e mexe tornam a pisá-lo sem oferecer a mão.

Espectadores