domingo, 31 de outubro de 2010

G.U.Ria.

E isso lá é coisa que se diga, guria?!
Onde já se viu, menina estufar barriga, olhar no olho do outro, girar saia no salão, futucar nariz em meio à multidão?
Preste atenção, meu anjo, o mundo dá valor ao consentimento, ao sorriso pequeno, ao olhar sereno...
O que o mundo quer? Se fagocitar! Eu quero correr, nem que seja pra me estabacar, levantar, correr, estabacar. Pago pela brisa do caminho, pela dor e a coceira da cicatriz, pelo encontro com a Terra, olhar pro alto e merecer o fardo de ser mero aprendiz. Então me diz, o que você quer? Enganar o mundo ou sustentar o peso de sua sublime leveza, onde entre o sim e o não o que menos importa é a certeza? Garçom, 2 copos e uma cerveja! Hoje eu vou brindar com o mundo, um brinde ao susto de fazer parte desse grande absurdo, um brinde à despedida, estou partindo pra voltar ao mesmo lugar, mas acredito que quando eu retornar isso tudo vai melhorar, e se eu não me apressar, corro o risco de enraizar, empedrecer, encaretar, bye bye, não me espere pro jantar.
Ass: G. U. Ria.

domingo, 26 de setembro de 2010

Sem pé com cabeça

Revirado pelas tentativas de olhar por outro prisma, mais de mil promessas dessas que ninguém acredita, enganando o diabo, a sorte, a morte, mas não a vida.
Aliviado pelo suborno ao padre, nem se despede do abade, ganha a rua e trama uma nova falcatrua.
Bicho de pé, deitado sobre o monumento de Don Juan, ladra ladra sem ter porque, gasta mais do que pode ter, pede mais do que tem para oferecer, rouba pela medíocre razão de enriquecer.
Inventaram-te em qualquer esquina, usurparam tua nobre menção em reverenciar a quem te deu o pão.
Grite bem alto suas inverdades com sinceridade, tua cicatriz é mais digna que teu sorriso, desenrola logo teus intentos postiços!
Nada além de ti interessa, por isso tenho tanta pressa, confessa teus medos mascarados em ofertas, bata na boca três vezes e me peça perdão, cantarola baixinho apenas esta canção:
“Canto do canto do olho, lágrima se desfaz num movimento sereno
amargura que sente por dentro
se desfaz num movimento sereno
batuca sem medo o tambor do desejo
que se faz num formigamento sereno
sente teu peito teus membros
vibrando num só movimento...”

Cadim de coisa nenhuma

Tamborilam os dedos inquietos através do prenúncio secreto contido nas flores flamejantes do deserto.
Hoje parou no tempo, amanhã não chegará ao exato momento, resta de um ontem tomar conhecimento em seu contento.
Ai de mim que sou assim.
Zombeteira do agreste.
Tal modéstia gira em torno do incauto, do furor, do abjurado, me entendam, por favor, a mordaça me calou, o espírito desencarnou, a pobreza me assolou.
Quanto mais explícita me torno, mais de mim correm os devotos, então me comporto bem dentro do espartilho, salto alto, na mente apenas mais um desafio.
Aquieto os pensamentos, conselheiros sábios que um dia estiveram presentes nesse solo ardente, atualmente me espiam solenemente, dedicam todo o tempo ao meu presente.
E quem pressente?

O silêncio divino te leva direto ao teu destino.
As palavras não ditas te libertam das armadilhas.
Em apenas um olhar, toda a sabedoria.
Em meio à tempestade de letras busco um significado para essa vontade danada da peste de arrancar os sapatos e correr contra o vento, escutar sussurros de bicho e de gente, pilotar uma estrela cadente, contar histórias cabeludas de seres decentes, embalar no colo esse universo inquestionável desestruturado por facínoras desequilibrados, me encantar com o dom inato de presenciar dia após dia que uma nova vida se anuncia.
Ai de mim que sou assim.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ar-Mário.


Depois de três dias recompondo os cacos, saí do armário. Estava tudo sob controle, a vida continuava viva e vi quando as borboletas também decidiram sair do casulo. É o primeiro dia da primavera, às vezes a coincidência gera o absurdo.
Pus-me a perceber  que o horizonte é logo ali, na ponta do meu nariz; o precipício é passado, pulei dele quando nasci * e já que estou aqui, faço do centro do universo o meu umbigo, não que signifique egoísmo, só quis dizer que se por acaso ninguém aparecer, estarei de braços abertos para me receber.
Três fusíveis do meu cérebro queimaram no armário, não que signifique um semi-retardo, só quis dizer que pensar demais sobre o futuro ou o passado me distrai a tal "pranto" onde deslembro que permaneço respirando. O ar têm-me tocado mais do que os fatos, e através desse contato, deixo vaguear e sublimar, evaporo distorcendo a fôrma, derreto meus anseios concretizados em desejos.
Como a vida segue sendo, existir requer escolha, a poeira da ampulheta se escoa * fique bem, meu bem, causo-de-quê coisa sequer me atordoa* Deparo-me com diversos manuais de pseudo-ajuda, engulo as páginas e saboreio a grande estupidez das palavras, cada verbo me limita, a letra pronunciada é a torta imitação da vida, nem o tal do fróidixplica, lácansétima, sól complica.
Considero o todo de qualquer conhecimento, o armário me deixou por dentro, por ele tenho grande apreço ao desamarrotamento, mas "voa lá", eis o momento de escancarar a luz e fulgurar de acordo com a sincronicidade do universo, a dualidade do acaso, o monismo do colapso, a certeza de que a dúvida é tão verdadeira quanto a mentira e que o feio foi bonito um dia.
Era pra ser mais leve, confesso, talvez mais alegre, de certo... Entre gavetas e cabides, me encolhi, dobrei o limite, me perdi, acordei mãe de mim, o filho que está por vir.  Ah,notei incrivelmente que o ciclo é bestial, ninguém se dá conta por ser apenas um mero mortal.

Meu primeiro dia depois do parto anormal daquele velho móvel e seus cupins, e já me ponho a ir além do que esperava de mim, mas é assim, aprendi a rir do tropeço, o erro gera o acerto, só tenho a certeza de que cada dia é um novo começo... (Fim).

domingo, 15 de agosto de 2010

Dente que nem sente.


Perceba a criação significativa e espontânea.
Não inventaram o homem, as coisas criaram-se, decidiram SER (vida), e a vida, ser vivida. 
Criaram-se por si só, criaturas criativas. Ser que desejou ter, Ser que desejou crer, Ser que já sendo, resolveu conhecer, esquecendo-se que não há por que.
Nessa busca de explicações, onde palavras se perdem no tempo, tão efêmero, que existe sem ser, subvertem o que sentem, que sabem inclusive o que nem sabe que existe, acreditam simplesmente... pois seria como negar a dor de dente.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O mundo é fabuloso, o ser humano é que ...

Passo torto de malandro que perdeu a alma no jogo, surrupiando a fala, distorcendo a calma, coitado do moço, nem chapéu tem para arrumar o troco.


Garoto disperso, invadido pelo mundo cruel, nunca quis alcançar o céu, mas voou tão alto que encontrou um tal de Manoel, well, well, well, garoto desperto depois do tombo de cara no asfalto, bazuca apontada por um asno fardado, mãos ao alto, viva o seqüestro diário de atos, então pega o atalho, corre sorrindo, em desalinho, garoto esperto, metido em perigo, encara o som do universo, bandolim debaixo do braço, esse garoto não cansa do fardo, da benção, não pede licença, respeita o invisível, não sabe ser romântico, mas é um amante emotivo, seduz o mundo com seu sorriso, garoto maroto, respeita o desafio, se mantém na estrada, as vezes dá mancada, sente fundo o calafrio, inventa palavras, piadas, gargalhada abafada, aprendeu a ser apenas essência, o pó de onde viemos, o que norteia a nossa existência.

Crioulo, deus de si mesmo, flutua e perambula, não há quem o destrua, lindeza, cara da mãe natureza, grita pra todos os cantos, diz que a resposta é sim, não importa o contexto, tem a sabedoria de sua missão, desconhece o inicio e o fim, garoto, que orgulho que tenho de seres assim.

Pilota seu cavalo alado, dança descalço, emana o calor da quentura do ardor, incessante, incendeia o que sobrou, e pára! O tempo é seu aliado, nem um minuto a mais que o esperado, faz dele o que quer, conquista em segundos aquela mulher, passa horas e horas no futuro, volta ao passado e ganha um presente, revelando o desejo de ser apenas um garoto eternamente.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Foice

O contexto existencial é a comédia de marionetes atuando em um paraíso artificial, onde a primeira cena foi omitida e o suspense diluído em um drama de sentimentos improvisados, lado a lado do épico futurista, com uma pitada de pornô-chanchada fascista.
Permanecemos renegando o reencontro com a vida, rindo de sábios, sepultando o espírito das palavras numa árida cegueira, num contágio da ignorância que nos permeia.
O prazer contido na carne se instala como o desejo da formiga pelo doce, de qualquer maneira, sem a concepção da causa, sem nada, quando se vê, já ”foi-Ce”.
E nesse barco estou a hesitar pelo naufrágio, na dúvida de quem irá me resgatar, não há culpa nem desculpa, habito meu corpo encarcerado, mas minha alma quer se salvar.
Salve-se quem puder? Não, salve-se quem souber sobre a grande ironia a que estamos impostos, ao coletivo só posso oferecer amor, não posso gritar aos surdos nem apontar aos cegos, estamos todos certos, de mãos atadas, só nos sobra o verbo. Escrevo para mim, não pretendo que me entendam, cheguei à conclusão de que primeiro somos cerceados de escolhas pra depois usufruir de um “resto- arbítrio” tão democrático quanto a sorte de um par ou ímpar.

sábado, 26 de junho de 2010

Prô.ôlho da rua...

Senhor, por favor, mantenha-se com a mesma postura que enaltece a curiosidade do menino escondido por detrás do muro. Recuse o grafite, o piche, um rabisco qualquer ou qualquer figura que possa deturpar seu mundo.
Conserve seus olhos fixados pelo buraco da fechadura, observando, de cara na porta, o que realmente importa, o que raramente muda.
E caso batam bem forte, diga que tem gente, mas seja inteligente, só confesse que perdeu a chave quando ninguém mais estiver presente.
E sozinho, finalmente, ponha-se em busca, comece a procurar... reserve bastante água, inspire profundamente, acenda um fósforo, caia de joelhos na terra e se oriente, ninguém disse que ia ser fácil, pois o impossível é atraente.
Senhora, sem pavor, mecha-se do lugar, descruze as pernas, borre a maquiagem, pois não há mais maldade nesse seu olhar.
O que foi perdido? Em meio ao labirinto, acenda as luzes, dê a pista da charada, ria da piada, ache graça de tudo ou chore por nada, meu dialeto é visceral, meu amor é bandido e meu espírito carnal.
Tenho medo da verdade, do perigo da revelação, ao barulho do silencio, prefiro raio e trovão.
Senhoras e senhores, o baile de máscaras chegou ao fim, não tem mais sentido continuar a fingir, o brega está na moda, o louco tem a chave do hospício, conto contigo, mas não conte comigo, dou adeus a esse asilo de novas idéias, a insensatez do velho burguês, a incoerência contida no seu português.
Confesso que meu relógio está confuso, anti-horário, sem a corda e o parafuso. Me livrei desse fardo, sou atemporal, versátil e banal, me chame de tudo, me confundo em seus rótulos, suas marcas, seus modos, mas nunca pequei por ser superficial, já te disso e repito, posso ter medo da verdade, mas que seja profunda, derrube os muros, levante as saias das meninas, seja turbulenta, abale estruturas de forma amena.
Se dependesse do momento, não haveria final, admiro o infinito, fecho os olhos e vejo além do normal, meu coração aperta, escorre amor, que corroe, amor fatal, a chave que abre porteiras de gados marcados, o código sem fronteiras, a solução de qualquer charada, a verdade incrustada na alma espancada, o contraponto que fortalece a nossa caminhada para o destino de utopias que se revela nos sonhos, mas que quando acordamos a música aumenta, o embalo esquenta, a mentira envenena e o figurino que representa o melodrama, que pena, cai tão bem que sempre nos desorienta.

Espectadores