sábado, 26 de junho de 2010

Prô.ôlho da rua...

Senhor, por favor, mantenha-se com a mesma postura que enaltece a curiosidade do menino escondido por detrás do muro. Recuse o grafite, o piche, um rabisco qualquer ou qualquer figura que possa deturpar seu mundo.
Conserve seus olhos fixados pelo buraco da fechadura, observando, de cara na porta, o que realmente importa, o que raramente muda.
E caso batam bem forte, diga que tem gente, mas seja inteligente, só confesse que perdeu a chave quando ninguém mais estiver presente.
E sozinho, finalmente, ponha-se em busca, comece a procurar... reserve bastante água, inspire profundamente, acenda um fósforo, caia de joelhos na terra e se oriente, ninguém disse que ia ser fácil, pois o impossível é atraente.
Senhora, sem pavor, mecha-se do lugar, descruze as pernas, borre a maquiagem, pois não há mais maldade nesse seu olhar.
O que foi perdido? Em meio ao labirinto, acenda as luzes, dê a pista da charada, ria da piada, ache graça de tudo ou chore por nada, meu dialeto é visceral, meu amor é bandido e meu espírito carnal.
Tenho medo da verdade, do perigo da revelação, ao barulho do silencio, prefiro raio e trovão.
Senhoras e senhores, o baile de máscaras chegou ao fim, não tem mais sentido continuar a fingir, o brega está na moda, o louco tem a chave do hospício, conto contigo, mas não conte comigo, dou adeus a esse asilo de novas idéias, a insensatez do velho burguês, a incoerência contida no seu português.
Confesso que meu relógio está confuso, anti-horário, sem a corda e o parafuso. Me livrei desse fardo, sou atemporal, versátil e banal, me chame de tudo, me confundo em seus rótulos, suas marcas, seus modos, mas nunca pequei por ser superficial, já te disso e repito, posso ter medo da verdade, mas que seja profunda, derrube os muros, levante as saias das meninas, seja turbulenta, abale estruturas de forma amena.
Se dependesse do momento, não haveria final, admiro o infinito, fecho os olhos e vejo além do normal, meu coração aperta, escorre amor, que corroe, amor fatal, a chave que abre porteiras de gados marcados, o código sem fronteiras, a solução de qualquer charada, a verdade incrustada na alma espancada, o contraponto que fortalece a nossa caminhada para o destino de utopias que se revela nos sonhos, mas que quando acordamos a música aumenta, o embalo esquenta, a mentira envenena e o figurino que representa o melodrama, que pena, cai tão bem que sempre nos desorienta.

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