sexta-feira, 14 de maio de 2010

Visitar-me-á?

Onde mora toda essa dor?

Talvez um dia possa me fazer um convite

Numa visita, me receber com um chá... é só um palpite.

Abro as portas, então, encontro-a num sótão, ou será um porão?

Resiste em me mostrar seu rosto, face crua esculpida em desgosto

Não fede nem cheira, sem sabor, é cega como uma mula, tapada e um tanto surda, só sente a picada do próprio veneno, passa horas a se consumir por dentro.

E quando cansa da solidão, se põe a invadir meu coração, cantarolando baixinho uma fúnebre canção, chega de mansinho, se aloja e decora meu peito à sua moda.

É dor cheia de vida, procria a morte e a alforria, faz do meu coração uma coação, apertado, bate todo acelerado. Uma disritmia que inveja o maestro, numa sinfonia de choro da denúncia do seqüestro, a dor é manifesto.

Ela acusa o roubo, a perda, o louco, a deixa. A dor é um processo vital, a morte é necessária para compor um final. O ciclo é eterno, meu espírito é infinito, a dor pode ser feia, mas deixa o poema bonito.

Uma alma partida, destroçada, não é de longe o significado do vazio, pelo contrário, demonstra a vontade de se preencher, catar os cacos e se reerguer, sentir o sentido do que é viver, como num ciclo, matar a dor para renascer.

Não gosto de me contradizer, mas essa dor só existe porque não há amor, é a falta de luz do vazio em que me deixou. É a esperança, a casa sem mobília, prestes a receber visita, um café, talvez, tenho fé dessa vez.

Sorrio e mostro o rosto, é a dor saindo por baixo, fazendo cócegas, provocando o gozo...

Ouço uma canção, com rimas e clichês, é a mais bela colonização do meu eu, acelero, paro, não evito, abro as janelas e basculantes, desejo esse amor todos os instantes.

Invada meu coração, meta o pé na porta, me ressuscite, pois já estou morta, prestes a compor um final, meu ciclo é eterno, meu espírito vital.

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